sábado, 8 de outubro de 2011

Icarus

Um general sem exército
Um funeral sem lamento
Uma canção sem sentimento
Pode se comparar
A viver sem conquistar

Em um homem há vários mundos
Com colinas e altiplanos
Tantos rios regando os campos,
Mais de vinte estações por ano,
Tantos povos e dialetos
E países a governar,
E estados a se formar,
Tantos frutos para colher,
Importar e exportar,
Tantos outros e tanto mais
Em tão breve e simples vida
Esperando pelas trilhas
Dos primeiros bandeirantes.
A que se pode comparar?
É inútil viver sem compartilhar.

Em um homem há mil estórias
Reais e imaginárias,
E sistemáticas, e arbitrárias,
E democráticas, e tiranas,
E românticas, e levianas,
Absolutamente insanas,
Absolutamente falíveis,
Bem ou mal escritas,
Cruzando tantas outras,
Plagiando milhares de contos,
Criando dezenas de vidas,
De inventos, de notícias.
Uma fonte de idéias tão raras,
Tão peculiares a se explorar
Com seus livros empoeirados a esperar
Um único leitor a quem possa interessar.
A que posso comparar?
É inútil um legado sem alguém para o herdar.

Um homem vive como um imortal,
E voa com asas de cera
Até que, com o beijo quente do sol
Suas asas se derretem no final.
A que se pode comparar?
É inútil voar sem alguém para quem retornar.